Eu tenho inveja de quem sabe o que quer da vida.
Às vezes olho alguém convicto do que tá fazendo e nem aí para o mundo inteiro e penso: caralho, queria ser assim. As pessoas acham que eu sou assim.
Eu tenho a impressão de que o que mais me atrapalha é precisar trabalhar e ganhar dinheiro (mas acho que quase todo mundo também pensa assim). Se você tivesse todo o dinheiro do mundo, ainda estaria fazendo as coisas que está fazendo? Engraçado, apesar de achar que não sei o que quero da vida, eu não estaria fazendo tanta coisa diferente assim. A única coisa que eu faria é pegar meu celular e jogar na parede, várias e várias vezes até ele estar todo estraçalhado enquanto dou risada por não precisar mais dessa joça pro resto da vida. Mas aí eu penso “e como eu venderia meus cursos e faria minhas mentorias?”, e volto a me lembrar que eu nem odeio meu celular tanto assim, e que eu provavelmente não jogaria ele na parede mesmo que fosse o Bill Gates (provavelmente eu pensaria em maneiras mais divertidas de destruir ele, tipo amarrar numa garrafa de coca-cola e jogar um pacote de mentos dentro dela).
Tudo bem, eu viajei um pouco. Sendo honesto, se eu tivesse todo o dinheiro do mundo eu provavelmente passaria mais tempo lendo e escrevendo, só isso. Você não me veria mais nos stories e meus posts seriam muito mais parecidos com meus emails (é porque stories vendem e aqueles posts funcionam que eu faço); minha mentoria custaria umas 10 vezes mais e meus cursos seriam todos playlists gratuitas no YouTube. Eu não deixaria nem os cursos nem as mentorias, mesmo que fosse tão rico quanto o Elon Musk, e seria ainda menos agressivo nas vendas.
Pensando bem, eu nem tenho tanta inveja assim de quem sabe o que quer da vida, eu meio que sei também o que eu quero. O que eu invejo é a coragem de dizer não para todo o resto, isso eu não sei se sei fazer. Agora há pouco eu estava sentado na cadeira, com as luzes do quarto todas apagadas enquanto minha esposa dorme na cama e meu cachorro no chão, ao lado dela, lendo o texto de um cara que escreve há 20 anos e vive disso. Ele lê, escreve, come e dorme — essa é basicamente a rotina que ele descreveu. Fiquei pensando “caralho, brother, o cara realmente foi de cabeça e viveu mesmo da escrita dele. E ele escreve o que ele quer. Caralho, que coragem, eu queria ter esse culhão”. Maluquice, certo? Afinal eu vivo da minha escrita e não dá para você dizer que eu não queria estar escrevendo isso aqui.
Sabe o que eu acho? Eu acho é que eu gosto de fantasiar outras vidas que não são a minha. É aquela velha história: a grama do vizinho é sempre mais verde. Você assiste Rocky e pensa que seria do caralho virar boxeador e vencer aquela luta, mas a real é que os treinos do filme duram só alguns poucos minutos e são acompanhados de uma musiquinha animadora (taratannn, taratann, taratannn, taratannn, ta ta ta taranan, taratatatatara, tataaaaaa), mas na vida real você não suportaria nem 1 mês daquela porcaria.
Olhar para a vida de alguém é ver a parte boa sem a parte ruim. Eu vejo as noites sem dormir do cara escrevendo mas não vejo que ele escreve lutando contra o sono só porque tem que entregar mais um capítulo do livro no dia seguinte; eu vejo as centenas de páginas lidas, mas não vejo o tédio infindável de ter que ler um livro chato porque é seu trabalho. A gente vê palco mas não vê bastidor. E aí parece que os outros sabem muito bem o que estão fazendo e só você que tá perdido.
A real é que todo mundo tem seus dias de certeza e seus dias de dúvida. Dias de luta, dias de glória. No fundo é impossível ter 100% de certeza de que estamos no caminho certo e tomando as decisões certas. Deus guardou uma parte da realidade inacessível a nós porque provavelmente as coisas teriam menos graça se não fosse assim.
Posso te contar um segredo: vir aqui escrever de madrugada foi a melhor decisão que tomei. Eu percebi que já faço o que queria estar fazendo.
AMDG
Elton
